sexta-feira, 18 de abril de 2008

...Lembranças do meu pai...


Escrevendo o futuro

Minha filha terá 16 anos no ano 2000, meu filho terá 13 (ou será 14?) e o outro será que terá 14? O pequeno, bem o pequeno eu tenho certeza terá 3. Os mais velhos nunca usaram uma maquina de escrever, o mais novo por certo nunca usará. Seu instrumento é (ou será) o computador - o dispositivo do futuro - que já se faz presente.
Ele condiciona outro tipo de relacionamento, não apenas com o texto, mas com a realidade. Mas eu espero que meus filhos, que amadurecerão a partir do ano 2000, usem o computador para ajudar a escrever a história de seu tempo, e espero que essa história fale menos de injustiça e mais de solidariedade; fale menos de preconceito e mais de afeto; que fale menos de fome e mais de abundância.
Estou usando um lugar comum ao dizer que espero um fututo melhor?
Estou, mas não me declino ao fazê-lo, porque é próprio do ser humano esperar, ter confiança.
A esperança e a confiança de algum modo se materializam: mesmo neste confuso final do século 20 vivemos em um mundo melhor do que os nossos pais, dos nossos avós, dos nossos antepassados.
É muito bom fazer 16, 13, 14 e 3 anos no novo século. E é muito bom que o novo século tenha jovens fazendo 16, 13, 14 e 3 anos.
Eles não esquecerão os sonhos do século 20.
E - a sua maneira - farão deles realidade.

27/12/1999

Esse texto é do meu pai e minha mãe encontrou por acaso quando estava arrumando algumas coisas em casa. É comum isso acontecer, afinal meu pai costumava escrever quando estava inspirado e depois jogava o papel em algum lugar que nem mesmo ele sabia onde.
Fico muito feliz quando isso acontece porque, de certa maneira, eu mato um pouquinho a saudade das idéias revolucionárias dele.
Meu pai era um homem incrivelmente inteligente, à frente de seu tempo, talvez por isso ele tenha ido tão cedo, afinal nesse nosso mundo os gênios são incompreendidos.
Não sei onde ele está agora, mas prefiro acreditar que é em um lugar onde existe paz, onde ele não precise acordar todo dia preocupado com dinheiro, com a saúde ou em como resolver os problemas dos outros.

Sinto muita falta das nossas conversas e principalmente dos conselhos, conselhos tão sábios que pareciam vir de um homem de pelo menos 200 anos.
Espero te encontrar em pelo menos mais 100 encarnações!

2 comentários:

Gisele H. disse...

Bonitas palavras!

Athos Aguiar disse...

Que lindo, Marcela!

O que é lindo?
O texto, as palavras e, principalmente, o teu amor!

Beijããão!